no vento,

16:10 Ana Flávia Sousa 24 Comments





'Palavras, palavras

Palavras, palavras

   Palavras ao vento' 
Cássia Eller


O céu tem estado bem nublado, o clima frio como gosto, a chuva caindo fazendo graça e exalando cheiro de terra molhada, tudo propiciando produtividade. Mas ando arrastada pelo caminho já decorado, posso ir de olhos fechados ou com a leitura em mãos, com um sexto sentido avisando onde há perigo, se devo parar ou avançar, a verdade é que tenho vagado pelas ruas. E as situações cada vez mais estagnadas no tempo, sem soluções previstas e penduradas no prego, pendentes, e eu aqui in stand by, preocupada demais pra conseguir qualquer sucesso, nem escritos, nem desenhos. A chuva continua caindo, linda, gostosa, refrescante e junto dela podia cair do céu também umas gotas de criatividade direto na minha alma, pra fazer algo que preste. Preciso dela aqui, que há  mais de um mês anda abandonado, quase de portas fechadas esse meu restaurante. Lá no Atelier, debruçada na prancheta e em meio a lápis multicoloridos, para fazer as curvas aparecerem no manteiga, belas, bem feitas e adequadas. O mundo conspirando a favor, mas seu talento não ajuda: não evolui. Dai desisto. Na verdade, devo desistir umas mil vezes por dia, acordo desistindo de levantar e por aí vai, tenho que parar com isso, repito tentando gravar na parte mais importante do cérebro, mas desisto porque esqueço tudo mesmo.
Durante o percurso diário decorado escrevo mil textos e projeto as mais belas edificações, mas antes de chegar ao meu destino já não me lembro de nada. Escrevo por todo o caminho na minha mente-máquina-de-escrever, com movimentos firmes nas teclas mecânicas, escrevo sobre o ipê de flores roxas do boulervard da avenida principal, da irmã mais nova e a saudade enorme, dos inúmeros dias maravilhosos ao lado do namorado, me declaro mil vezes em um passo só. Escrevo sobre o café-livraria que desperta meus sentidos, e a vontade que tenho de me sentar e escrever lá dentro, tomando aquele chocolate gelado. São muitos escritos no caminho, palavras datilografadas com cuidado em segundos, mas na pressa para chegar no horário deixo os papéis impressos da memória caírem nas esquinas, chego no meu destino sem arquivo mental algum, um descuido só. Em frente ao computador, o ócio grita autoridade. Abro uma vez a caixa de texto, e  em seguida a fecho. Repito a ação várias vezes, tentando me recordar da metade das frases escritas a partir do momento que tranquei a porta de casa, nada: já era. São as palavras minhas, aos ventos da Cássia. Palavras, ao vento. 


Tentei tirar a ferrugem das letras, quem sabe na próxima?! 

24 comentários:

  1. Ahh Ana Flávia, por aí tb tem faltado inspiração? Nem me fale disso, estou fazendo igual vc, passo o dia escrevendo texto na cabeça, que depois ficam em algum canto bagunçado la dentro, porque esqueço tudo e o papel vazio... ahahah
    Mas você ainda escreveu um texto lindo sobre isso! Quem sabe nossas orações iluminam nossas cabecinhas... rsrsrs Que venha essa chuva de inspiração! Amém!
    Beijos!

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  2. E não é que da tua falta de inspiração momentânea surgiu mais um texto lindo?
    Que bom que minha torcida deu certo hehehe :)
    E nem preciso dizer o quanto me delicio com os pratos do teu restaurante!

    Beijos e boa semana, flor.

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  3. Olá (:
    Curioso que justamente a tua falta de inspiração tenha me atraído ao teu blog rsrs'

    Se tão sem criatividade você já escreve de maneira tão doce e natural , que dirá quando recordar as palavras que perdeu no vento ?
    E , oh , eu gosto muito da Cássia Éller .
    Talvez ela saiba onde vão parar as palavras que se perdem no vento .. (;

    Enfim , estou seguindo agora . E esperando ansiosamente que encontres as palavras perdidas .

    Abraços <3

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  4. Mas tudo o que tu escreve fica lindo como esse texto, pode acreditar!

    Beijos

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  5. Gosto demais desse teu cantinho!
    Estarei sempre por perto (:

    Mil beijoos.

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  6. ''São muitos escritos no caminho, palavras datilografadas com cuidado em segundos, mas na pressa para chegar no horário deixo os papéis impressos da memória caírem no caminho, chego no meu destino sem arquivo mental algum, um descuido só''
    Ah, como eu sei o que é isso! Correria, Aninha. A inspiração só aparce quando não pode, naquela hora em que estamos em pé num ônibus cheio com as duas mãos ocupadas; uma com livros e outra nos segurando, por exemplo. É assim mesmo, fases de bloqueio sempre aparecem, mas com a mesma fugacidade que vem, vão embora e devolvem nossa inspiração, no momento, hora e com o sentimento certo.
    E mesmo que tenha achado sem sal esse prato, eu o achei perfeito! Maravilhoso, com toda a sinceridade da sua leitora assídua aqui!
    Beijos, flor!
    Saudades!

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  7. Ana, meu bem, eu tenho uma teoria : penso que, de quando em vez, as palavras e as ideias que nascem em nós ainda não estão completas, não estão prontas pra estampar o papel ou a tela.

    Então elas se soltam ao vento, como tu disse, caem no mundo e rolam por aí, confrontando outras ideias igualmente soltas de outras pessoas, amadurecendo. Só depois, mais apuradas, voltam pra nós e aí sim passam pelo nosso filtro, escorrem pelos nossos dedos e se transformam em composição escrita.

    Acontece comigo, com as minhas.

    ;)

    Lindo o teu texto, lindo!

    Um beijo.

    Vou puxar meu banquinho e ficar por aqui, tá?

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  8. " O mundo conspirando a favor, mas seu talento não ajuda: não evolui". Tão eu!

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  9. Finalmente estou seguindo você, flor. Quero mais textos seus.

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  10. Vai ou não vai escrever meu livro?

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  11. eu goosteei muito e bom as palavras são coisa que depende as vezes poem ser lindos ja outras podem fazer um grande estrago . beijoo

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  12. Às vezes deixamos a inspiração fugir, são tantos problemas, tantas coisas pra se resolver que acabamos perdendo as palavras e as belezes que passam desbercebidas aos nossos olhos. Também ando assim e não sei por quanto tempo continuarei fugindo das palavras, mas espero que não demore nem pra mim e nem pra você, flor.

    Um abraço!

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  13. Ana Flávia, sua linda, passei pra deixar um beijinho.

    :a

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  14. Impressionante como me vi nesse texto.
    Entendo inteiramente o que você quis dizer, nesses dias chuvosos, é como se o frio das ruas transpassasse para a mente..
    Você escreve muuuuito, parabéns !!

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  15. É mesmo assim, as danadas das palavras nos vêm quando nossa cabecinha vagueia em outro lugar...mas uam hora o vento tarz de volta, Ana!rs
    bjs, bom te ler novamente!

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  16. Moça, vim pra avisar: tem promoção no meu blog pra todos que seguem e me dedicam carinho neste 1 ano! =)

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  17. Que linda, acho que a gente sempre passa por isso. Eu passo sempre. Escrever se torna o plano B e o plano A não acaba nunca. Mas você conseguiu, saiu um texto muito bom, de verdade. Não escrever pode deixar um vazio na gente, mas a sua vida e sua felicidade te deixam cheia o suficiente pra sempre escrever coisas bonitas.
    Beijões

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  18. Cheguei até aqui através da brilhante ideia da nossa querida amiga Yohana de criar um grupo la no facebook, o "escrever"... tenho encontrado blogs incríveis como o seu!!
    Seguindo!!

    bjo,bjo
    Camila Gomes
    http://camillacris.blogspot.com/

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  19. MENTIRAS


    Em frente à tela decidi
    Que não mais escreveria
    Nem um risco a mais na linha
    Minha rima chega ao fim
    Já não vejo mais encanto
    Em pintar a tela em branco
    Do que nasce e morre em mim
    Vou juntar tudo o que tenho
    Sentimentos e desejos
    Enterrar... É ponto e fim.

    Tem dias que são assim,mas nada que tempo não leve! Grande beijo e venha me visitar.
    http://nevioburgos.blogspot.com

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  20. "Abro uma vez a caixa de texto, e em seguida a fecho. Repito a ação várias vezes, tentando me recordar da metade das frases escritas a partir do momento que tranquei a porta de casa, nada: já era. São as palavras minhas, aos ventos da Cássia. Palavras, ao vento." resumiu meu momento, sem mais. Um beijo :*

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  21. Os dias não tem sido fáceis, e tampouco tem sido bonitos... Mas precisamos vivê-los.

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  22. seu blog é realmente lindo, sucesso.
    http://tepegonamoita.blogspot.com/

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:)