marinando

16:33 Ana Flávia Sousa 9 Comments

O sol nasceu sob aquela chuva mansa, tão mansa que você sabe que vai demorar a passar. Mariana acordou preguiçosa, mas feliz , a chuva sempre lhe trazia serenidade pra descansar os pensamentos que fervilharam tanto naqueles dias de sol. Recesso. Estranhamente, cansou-se rápido da paisagem vista através do vidro sujo da janela daquele quarto, vazio.  Mesmo tão amiga da solidão e de cada um dos seus lápis multicoloridos, o dia se entristeceu de repente.  De nada servia os dois mil e um traços em cores nos mais variados rascunhos de sonhos colocados ali, na velha escrivaninha. Neste dia tão peculiar, em que nada se encaixava no normal ela viu ao se olhar no espelho que foi ela quem deixou o dia triste. Comprovou ao ver que as lágrimas que eram refletidas diante de si se misturavam com a imagem da janela, pingos de chuva se espalhando naquele vidro, tentando limpá-lo a todo custo. Pobre chuva, mal sabia que a sujeira estava por dentro, impregnada. Mariana sabia que poderia mudar aquilo tudo, mas não sabia como, quando e onde. Desceu correndo as escadas do sótão para se embriagar de choro de nuvem, chuva, chuvisco. Temporal dentro de si. Havia um lago, cheio de vazio. Não havia pier. Havia Mariana, cheia de tanta coisa. Vazia de paciência.  Havia muita confusão nesta quantidade inimaginável de vendavais que tentavam sem receios, e muito menos pudor levá-la pr'aquele abismo infinito de angústia. Mariana tomou um porre daquele líquido caído do céu e queria férias de algo que não compreendia. Diante do lago da casa antiquada como só Mariana sabe ser, ela se viu numa pequenez que fez com que sua estrutura, tão bem planejada e rígida até então, estremecesse. Havia medo em cada gota minúscula de orvalho da alma. Sentiu todo o oceano que guardava há muito  nas profundezas de seu ser, e num ato quase insano o quis dividir com o lago. Precisava. Sem forças para conter os olhos tão aguados de mar, abraçou-se ao vento, antes forte, leviano. Agora, par dançante. Pôde contar com o carinho que a brisa gelada acariciou seu rosto e, aos poucos a maré foi baixando. Tudo melhoraria. Ela se sentiu pronta a encarar a dura tarefa da limpeza daquele vidro, que tanta gente quis sujar, borrar. No caminho, juntou pedras que foram jogadas, levou pra dentro, para com elas começar a construir seu castelo. De cartas, pode ser. Escada para alcançar cada um dos sonhos. Depois, por trás da janela outra vez translúcida, veria as nuvens dando licença para o sol brilhar a tardinha, pouco antes de seu espetáculo, aquele sol que parece que se põe todo dia dentro da gente, tão bonito que é. Libera sorrisos, antes prisioneiros. Veria aquele encontro, entre o astro rei, sonolento, pronto pra dormir, e a vida noturna, brilhante, da dona lua.  Acreditaria. Ao alvorecer, Mariana transbordava em mar, e o mar de alguma maneira, possuía uma parte dela. Agora, anoitecendo está, e é Luana, cheia de luz, cheia de brilho do luar. Queria acreditar. Não havia uma versus a outra. Ambas eram componentes de uma mesma equação, resultando em força, chuva, sol, lua. Era possível. Andam dizendo por aí, que depois da tempestade, o sol sempre aparece.  Pode acreditar, pode abrir a janela, vai.  O tempero especial vem por último mesmo. Assim, Gran Finale.

-Ana Flávia Sousa

9 comentários:

  1. Sempre temos desses dias de está tudo lindo e nós mesmos conseguimos estragar, as vezes até vale a pena porque ao final fazemos uma avaliação de nós mesmos e evoluímos! O importante é o final mesmo!
    Saudades da senhorita!
    beeeijo ;*

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  2. Oi minha querida amiga. Que bom conhecer teu blog. Acho que estou diante de uma ótima escritora. Parabéns pelo teu trabalho. Sucesso cada dia maior. Um grande beijo.

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  3. Ah minha flor, mas essa Mariana hem.
    Ate parece comigo por conseguir estragar um dia todinho. Haha
    Mas eu como a Mariana ando revendo conceitos e tentando melhorar a cada dia,aproveitar mais. Reavaliando muitas coisas.
    Muito perfeito esse texto flor!

    Beijos
    Ah eu te amo! ( Você escreve certo) rs
    Brincadeirinha Ana

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  4. Todos esses temperos tem o melhor sabor possível.
    Tem que repetir sempre.

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  5. Hummm...que linda...tão intimista e com um quê de mística com essa coisa de chuva, sol e fé ...coisa linda Ana! bjsss

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  6. "Andam dizendo por aí, que depois da tempestade, o sol sempre aparece. Pode acreditar, pode abrir a janela, vai. O tempero especial vem por último mesmo. Assim, Gran Finale."

    Que texto bom de ser lido, motivador, sabe? Acho que todo mundo tem um dia assim, que a gente mesmo estraga, e às vezes nem é um dia, mas muitos. Ainda bem que a gente sempre acorda pra realidade, encontra força e beleza até na chuva, e limpa a janela todinha, pra que quando o sol apareça, possa entrar por completo, sem nenhum empecilho.
    Adorei seu texto, incrível! (:

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  7. Amigaaa, eu adorei tanto esse lay que me deu vontade de fazer outro blog pra mim :o...Espero que você tenha gostado da cara que ficou..fiz com muito carinho. Bjoooooo :g

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  8. Somos mesmo a mistura de tudo e é bom que estejamos atenta à isso. Cada um e o todo ao mesmo tempo. É a dialética da vida, é o começo e o recomeço todo o tempo. Um beijo.

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  9. A vida é cheia de temperos especiais, que dão um gostinho mais lindo à ela. Adoro gran finales e amei seu blog. Obrigado pelos elogios, me encontrei nessas tuas palavras escritas. Seguindo, um beijo!

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:)