Malas prontas

00:24 Ana Flávia Sousa 0 Comments

nossa casinha pequena parece vazia sem o teu balé. 



" As malas estavam quase prontas. Não havia muita coisa, pensou, pois vendera a maior parte do que adquirira desde que se mudara para Charleston. Viajar com pouca bagagem simplificava tudo. Além disso, ela aprendera desde cedo que nunca, mas nunca mesmo, devia se afeiçoar a qualquer coisa que lhe pudesse ser tirada.
Ela se levantou, lavou a xícara, enxugou, envolveu com jornal e guardou na pequena caixa de utensílios domésticos que pensou ser a mais prática para levar. Pela janela por cima da pia, olhou para os fundos da casa.
O pequeno pátio fora varrido e lavado. Deixaria os vasos com as verbenas e as petúnias brancas para os novos proprietários. Torcia para que cuidassem bem do jardim; mas, se quisessem se desfazer de tudo, a casa lhes pertencia para fazerem o que bem entendessem.
Ela havia deixado sua marca ali. Os próximos donos poderiam pintar e colocar papel de parede, ladrilhos, carpete, mas o que Tory fizera não desapareceria. Estaria sempre por baixo do resto.
Não se podia apagar o passado, nem matá-lo ou desejar que não existisse. Também não se podia relevar o presente ou mudar o que estava para acontecer. Todos eram prisioneiros desse ciclo do tempo, sempre contornando os dias passados. Às vezes esses dias eram bastante fortes e determinados a arrastar a pessoa de volta, por mais que tentasse resistir. 
Mas seria possível que sua depressão se tornasse ainda maior?, pensou Tory, suspirando.
Ela fechou a caixa, suspendeu-a para levar até o carro e saiu da cozinha sem olhar para trás. "

Nora Roberts _  Lua de Sangue


Este trecho foi tirado do livro que estou devorando no momento:  Lua de Sangue. 
Foi um dos vários fragmentos da obra de Nora que em tão poucas páginas lidas,fixei na memória!
Há pouco tempo consegui ir embora da casa em que estava guardado todos os momentos mágicos da minha vida! Estou de malas prontas! Em algum lugar do mundo, sei que existe uma casinha vazia, também guardando a história de quem lá viveu, e eu e meu espírito de arquiteta e amante da arte, farei com que esta seja a casa mais aconchegante que já existiu. 
Chegarei com meus medos, malícias, sonhos, planos, cobertor, sapos de pelúcia, livros e passado. Chegarei aos pouquinhos, ou quem sabe de supetão?! Dependerá em qual extremo eu estiver, ou qual deles for atiçado! No lar antigo, deixei as lembranças boas (as ruins foram jogadas no lixo), os momentos inesquecíveis e uma gratidão imensa. Para os novos proprietários, deixei um desejo de felicidade e intensos momentos bons! Para a nova casa, levarei a mim! Inteira! Insana. Inconstante. Inspirada. Impulsiva. Impossível. Inquieta. Impaciente. Incontrolável. 

Ana Flávia Sousa Silva

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