não quero nem título

22:16 Ana Flávia Sousa 8 Comments


Eu sempre fui meio Maria do Bairro e isso já é um fato consumado e registrado em cartório. Tá lá, Nana Banana da Silva, a própria tempestade no copo d'água, que transborda a cada pequeno mimimi da vida. Tá certo que a gente melhora com o tempo, a vida, ela acontece e exige da gente uma baita duma cara de pau pra encarar tudo dessa tal fase adulta. Mas, (há sempre um mas), vez ou outra, cá estou eu, aos onze, doze anos carregando uma ansiedade do tamanho do universo, esperando demais do futuro e escondendo lágrimas na água do chuveiro e implorando, pelamordeDeus, por uma luz no fim deste imenso túnel. 

Meses atrás, li e favoritei um livro que contava a história de uma menina de doze anos que estava programando seu suicídio e, no mesmo dia, (claro que antes) um incêndio no apartamento dos pais. Tô com isso meio engasgado ainda, sabe? Eu, com essa idade, achava sim que o mundo era enorme e me engoliria e eu não aguentaria, tinha pensamentos horríveis ao pensar que não valia nada e pra aliviar, escrevia sem parar num caderno amarelado roubado da mãe. Eu era mais que maria do bairro, eu era meio depressiva e, só depois de muito tempo fui perceber isso. Eu tinha o sonho de modelar (era enorme pra idade e botaram uma tonelada de expectativas sobre a mini nana), não comia pra ficar magérrima e passar nos testes. Fiquei um palito, era o bambu de pegar estrelas, a girafa feia e claro, ainda assim era gorda demais. (?) Por outros motivos, grandes e pequenos, me afogava todos os dias em lágrimas na escola e, aos poucos, eu era a menina chorona que sentava no canto da sala. O mundo sempre foi enorme demais e eu, um cisco.

A menina do livro fala uma coisa que sempre ficará matutando na minha cabeça agora, mais ou menos assim: as pessoas deviam contar as crianças mais coisas, explicar a elas o mundo. A gente passa a vida inteira tentando apanhar as estrelas e acabamos todos, dentro de um aquário. (!!!!!!!!!!!!!!!!) Expectativas, minha gente, pra quê que essas miseráveis tem que acabar com a nossa sanidade quando criança e mais ainda, agora, na vida adulta. 

Durante os cinco anos da faculdade criei um elefante de expectativas pra cada célula do meu corpo, fiz um milhão de planos por metro quadrado e, um ano e dois meses depois do fim, cá estou eu aos doze anos afogada no mar de ansiedade que criei e recriei. Ninguém senta com a gente e explica que o tempo é diferente pra cada pessoa e que as vezes, o caminho é um pouquinho mais longo e dolorido pra alguns, mas que nem por isso a gente precisa se preocupar tanto, porque tá tudo bem você demorar um pouco mais que o coleguinha e que isso, de maneira nenhuma, significa que você é o cocô do cavalo do bandido. Ninguém senta pra gente e diz que tá tudo bem você não querer o cargo de chefia, um salário milionário e só querer o suficiente pra viver bem e ter uma família saudável e por amor, querer estudar mais e dar aulas num país como o nosso. Ninguém ensina a gente a dizer pros outros que você se formou mas que agora, está aprendendo numa área um pouco diferente da sua, mas que isso não te diminui, que não significa que os cinco anos de estudo foram jogados ao vento, que os dois estágios (mais aulas à noite) (mais terceirizados nas madrugadas e finais de semana) carregados a duras penas nas costas foram desperdiçados, que a nota 100 do trabalho final de graduação (mais indicação da banca pra um concurso de estudantes de arquitetura) não foram merecidas. Tá tudo bem não querer correr atrás das estrelas porque o que muita gente quer é ficar aqui na grama, brincando com tatu-bolinha (enrola-desenrola), ao menos por agora.

Mas sempre tem aquela tal de expectativa, que adora se juntar com a ansiedade num monstro enorme e vir atormentar nossa recente descoberta vida adulta. Não sei vocês, mas me sinto correndo numa esteira enquanto a vida de todo mundo acontece, como se só eu (#diferentona), não saísse do lugar e isso as vezes é tão grande como quando se tem doze anos, engole mesmo a gente e suga nossa alma a conta-gotas. E é uma merda enorme não se sentir alguém digno de admiração por isso, enquanto só preciso de tão pouco para me sentir realizada. Minhas estrelas estão tão perto: dorme doutro lado da cama, tem quatro patas, moram em três no interior, chamam pra beber uma cerveja de vez em quando e torcem pro meu aquário ser confortável o suficiente para meus pequenos - grandes - sonhos. E que no fim, ele nem precisa ser de cristal com corais decorativos falsos bonitinhos. 

Talvez, esse bando de letras que derramei aí em cima, me façam parecer acomodada. Talvez, só me façam parecer cansada de querer sempre tanto tão rápido enquanto o que realmente se precisa, é de uma grama pra se rolar mais leve. (e nem precisa ser verdinha, que depois a gente cuida). 



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:)