assim, feito flor caída.
_ É caduca, olha só. - Disse enquanto passeava com os dedos entre as ondas do cabelo dela.
_ Hein? Caduca? Eu? - Espantada, levantou subitamente do gramado daquela pracinha, e encostou a cabeça sobre os ombros dele.
_ É caduca oras, aquela árvore ali ó, não tem flores, nem folhas então é de caduca que a gente chama não é? Foi tu quem me disse, daquela sua aula de paisagismo não lembra?
_ Ah é, me lembro. Aquela acho que é um Ipê roxo, tá vendo? Mas suas flores eram cor-de-rosa antes de caírem nesse chão gelado daqui. Era roxo só de nome.
_ Um Ipê é? Mal dá pra ver. Fica irreconhecível sem flores, fica sosso, sei lá.
_ É.
_ É?
_ É. Me sinto assim, não sabe? ca-du-can-do diariamente, aos pouquinhos. Gole por gole perdendo minhas flores pelo caminho...
_ Tá se achando irreconhecível também?
_ Um pouco. Isso é, sei lá... Acho que fui perdendo as flores - e - sonhos por aí, tenho medo de me esvaziar e no fim das contas, sobrar só casca, não entende?
_ Entendo.
_ Entende mesmo?
_ Entendo. Mas sabe, no fim das contas mesmo, acho que tudo que a gente é, fica na raiz, tão bem guardado que não tem jeito de se perder...
_ Será?
_ Eu acho. - Abraçou-a docemente enquanto pensava que só ela conseguia ser mais linda que aquele sol que estava pra se deitar nas montanhas, n'aquela cor que sobraria do desbotamento azul do céu, que vira dança em amarelo-ouro puro.
_ Então...
_ Então, eu acho que você não se perdeu, só isso. Você abriu mão de alguns planos, desfez outros, mas nem por isso é alguém pior que já foi um dia.
_ Sei.
_ Tô sendo sincero poxa, dá pra prestar atenção?
_ Continue. Tô ouvindo.
_ A gente perdeu muitas flores no caminho, é verdade. Mas vê só, elas caíram cá embaixo olha! Caiu, e virou adubo pra raiz ficar mais forte. Caíram as suas folhas, pra te encorajar a seguir em frente, s-e-m-p-r-e! - E então ele se levanta e estende a mão pra ela levantar, e a abraça como se a estivesse protegendo do fim do mundo.
_ É por isso que não vivo sem você. - E beija suavemente o rosto dele. Depois a testa e o pescoço. Por último a mão e aquele símbolo dourado de união.
_ Por isso o quê?
_ Por que você me faz seguir em frente e pensar que sou capaz.
_ Por isso eu te amo!
_ Por isso?
_ É. Por você me deixar te proteger de você mesma. Você as vezes tem mania de lutar contra si mesma.
_ Me deixa dentro deste abraço pra sempre?
(um sonho bordado todinho em dentes-de-leão,
passagem na travessa do ipê caduco, foi roxo, e cor-de-rosa, caiu todinho no chão,
um final de semana todinho de abraço protetor,
um tal de desbotamento azul, azul...
e 'oh my mind' que não me sai da cabeça
.
e 'oh my mind' que não me sai da cabeça
.
_ tudo, tudinho batido no liquidificador.)
7 comentários:
:)