Fraternalmente amor.
"Menina, vou te guardar comigo."
Sempre sonhei muito, vivendo num universo paralelo que só criança pode inventar. Quis companhia, que demorou anos pra chegar. A irmã caçula ainda frágil não podia brincar. Quis protegê-la, desde sempre e para sempre. Incorporei uma adulta responsável pela mais nova vida que encantava nossos dias, quando tinha apenas oito anos vivido. Assessorei todo o cuidado que tinham para com ela, buscando acumular aprendizado na bagagem. O bebê cresceu, andou, falou: 'nana' e meu instinto (ir)materno se fazendo cada vez mais presente. Ela passava mais tempo sob o meu zelo e então, fui me achando no direito de educá-la também. Fui grossa, ríspida e extremamente exigente com uma criança recém saída do berço, que mal aprendeu a falar direito, que ainda pedia pra ‘polucar o bu’ (procurar a chupeta/bico) e que me via como inspiração. Hoje, depois de tanto tempo, vejo-a crescida, quase mulher e me arrependo de tantas coisas feitas, ditas e omitidas. Eu poderia ter sido mais carinhosa e menos ditadora, mais companheira e menos irmã mais velha. Cometi erros graves quando pensava que nossa criação deveria ser a mesma, que nossa personalidade tinha porque tinha que ser a mesma, não foi e nunca será. Na maioria das vezes, adquiri o título de irmã-chata-que-só-pega-no-meu-pé e cheguei a ouvir dos pais, tios que não a amava por isso, mas claro que não era verdade. Eu a amava com todas as minhas forças, e amo. Amo a menininha que quase se afogou, antes de eu entrar na água sem saber nadar e a salvei. Sou apaixonada com a convicção com que ela trata as coisas na vida, mas brigo pra que ela diminua o tom, não responda, saiba ouvir mais, sente direito (igual mocinha), respeite a opinião, respeite as ordens, respeite os pais. Temo que ela vá sofrer um dia, as pessoas são muito cruéis quando querem. Hoje, sinto tantas saudades. Deveria ter brincado mais de ser irmã e deixado este lado materno um pouco de lado. Deveria mesmo ter sido menos rígida e mais leve, mais compreensiva, mais amiga. Deveria ter valorizado mais aqueles momentos que só criança tem, inéditos. Eu poderia ter tido mais paciência com as vezes que fora malcriada, deveria ter conversado e não gritado. Gritei muitas e muitas vezes, e se preciso, ainda grito, grito amor por trás de tudo isso. É cuidado, é zelo. É medo de não prepará-la pra vida, esta que nem eu sei como age. Agora, busco ser a amiga mais velha, pra orientar, pra conversar, e pra acima de tudo ouvir. Agora, sonho com essa amizade, sonho com esse amor tão real, tão verdadeiro, tão nosso. Essa princesa, foi meu maior e melhor presente, melhor do que eu esperava baby.
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:)