so sweet.

15:28 Ana Flávia Sousa 14 Comments

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Enquanto estou aqui deitada na minha cama criando coragem pra terminar aqueles croquis sem inspiração alguma e comendo a metade do tomate-maçã com sal, pensei em quanto tempo faz que não escrevo a você, a nós e me veio a mente aquela história de você achar o caminho lembra? Nem eu imaginava que seria tão fácil fixar morada aqui no meu peito, nada perfeito e inteiramente complicado: mérito totalmente seu. Corajoso como só você sabe ser, se dispôs a enfrentar todos os dragões vigilantes da minha torre (que eu contratei antes de me prender) e me tirou de lá antes que eu desacreditasse em tudo: me salvou.  O sal do tomate fez arder aquelas aftas mal curadas e lembrei que batalhei também, pode não estar assim explícito, mas lutei contra meus pensamentos negativos, contra as cicatrizes, contra o que eu acreditava ser o fundo do poço: solidão insistente.  No auge da ardência da ferida bucal lembrei o quanto rezei sozinha no quarto, o quanto chorei sufocada por ser tão fria, iceberg pro seu Titanic. Foi nas caladas das noites, entre uma conversa e outra que eu me culpava por tanta indiferença ao sentimento que batia insistentemente à porta; a melhor que destranquei. Sabe, estou aqui morrendo de sono às três da tarde, torcendo pra que faça o frio sonhado do inverno e que caia uma chuva pra terra cheirar molhado e esperando o sol se pôr para poder vê-lo, esperando sentir frio pra te pedir um colo. É, ando meio carente eu acho, o lado emotiva gritando dentro de mim, mas não me leve a mal, não choro de tristeza, é necessidade mesmo. Entenda, é como o chocolate que me faz bem, é como redigir aqui pra que o que fica guardado poder se mostrar presente, nunca temos tempo pra conversar tudo. Meus croquis estão ali sem sequer um traço que faça algum sentido: hoje acordei sem inspiração pra arquitetura, sonhei que você tinha me dito um não e me dado um pé bem na bunda, e doeu.  A verdade é que nossos planos estão tão sintonizados, se sentindo a vontade com a realidade, tão próxima e nem mesmo pesadelos me fazem descer daqui de cima, onde ando sonhando alto. A verdade é que o que sinto por você é doce como o primeiro cartão que recebi de você: so sweet. A verdade é eu sou apaixonada por você: amor de verdade. Sentada aqui vi nossa história passando como um filme, e dei risada quando revi cenas que meu lado bobinha vingou, e quando fiquei brava e você sorrindo me tirava a razão. Sabe, meus desenhos estão ali esperando que eu dê um pouco de cor a eles, mas você me tomou toda a vontade hoje. Minha única vontade em meio a estas cólicas diabólicas é te esperar pro café da tarde, te servir umas torradas e beijos e dividir a caneca de capuccino.









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pai,

14:32 Ana Flávia Sousa 6 Comments






Ontem eu te liguei para efeito contrário papai, porque sempre sou eu quem escuto o celular tocar "Three little birds, sat on my window and they told me I don't need to worry", hoje um toque a cobrar e a ligação retornada: nunca uma canção tocou meus ouvidos tão certa, percebi depois. Gostaria de dizer tanta coisa, aproveitar seus bônus e dizer o quanto sinto saudades da sua companhia e agradecer por tentar junto comigo preencher este vazio entre as inúmeras ligações diárias, nossa doce rotina, só nossa. É na distância que o nosso amor se solidificou, e nela que se tornou explícito, demonstrações puras nos finais de conversa, misturadas com o tchau, só nossas: tchamo. As coisas não estão sendo fáceis, o senhor sabe que me desespero e deixo um pessimismo me consumir: atordoada. Mas ontem papai eu engasguei por isso fiquei um tempo muda, absorvendo as suas palavras de apoio, absorvendo esse seu positivismo e tentando captar a intensidade da sua fé na minha capacidade: chorei. Sem perceber meu pranto ouvi o pedido que eu não me sacrificasse pelo senhor, pelo dia dos pais, por presentes, justificando que o maior presente eu o dou diariamente, sendo filha, e proporcionando carinho, respeito, obediência. Quis pedir que parasse antes que meus olhos matassem afogado o celular e eu perdesse a ligação. Como não me sacrificar por você papai? Você que acima de tudo me deu a vida e não mediu esforços para que eu me tornasse a pessoa que sou hoje, em constante aprendizado. Como não retribuir cada milímetro do amor que a mim foi doado, inteiro? Meu pai não é herói, ele está num patamar superior, bem alto.
Gostaria que pudesse ver o orgulho que me refiro a minha (futura) profissão: meu pai, minha inspiração.  Tenho seu sangue, seu espírito conservador (quase todo), sua altura, seu jeito de lidar com certas coisas, sua expectativas. 
 Herdei mais que seu DNA, mas não herdei teu time de coração, o que não foi uma decepção: hoje, motivo de brigas de mentira, uma diversão.Aqui, longe do seu sorriso, fico pensando no tempo perdido, nas histórias não contadas, nas piadas sem gargalhadas, nas músicas não partilhadas e meu coração dói papai, dói de tanta saudade, dói de tanto amor. Dói porque nem sempre fiz tudo o que podia pelo senhor, enquanto que o oposto sempre acontece, sempre. Desde quando eu era aquela menina magricela de marias-chiquinhas loiras e você ainda usava aquele bigode estranho, ouço sua voz dizendo que se pão faltasse, da sua boca tiraria pra me dar, pra suas filhas: primeiro lugar. Cresci com medo do escuro, correndo pro meio da sua cama pedindo socorro, acalmada com suas histórias do senhor cavalo que caiu no buraco, só nossa. Cresci protegida pelos seus braços e abraços tímidos, sua perseverança. Cresci vendo sua amizade com meus amigos crescer, simultaneamente a minha. Saiba meu pai, que sinto muito orgulho por tudo que o senhor é, seu caráter, sua honestidade, seu bom humor sempre são reconhecidos, e sinto cada vez mais vontade de ser assim, como você: coração puro e enorme e de um dia possuir toda essa beleza que o senhor cultiva dentro dele. Saiba também que mesmo achando sua preocupação um exagero, eu acho uma graça, só nossa. Saiba papai, que eu tenho esse jeito as vezes desligado, mas meu amor  por você eu nunca tiro da tomada e tudo que faço, planejo, realizo é pensando em você, na nossa família.  Saiba também, que este escrito não demonstrará o tamanho do meu sentimento de filha, porque ele é imensurável.  Agora, só tenho a agradecer imensamente meu pai, por tudo mesmo, por me ajudar a dar o primeiro passo em tudo que é novo, e por sempre segurar minha mão quando estou pra cair. Obrigada por me ensinar a essência de viver: o valor da família, da nossa família. O senhor, a mamãe e a caçula, são meu maior presente, e seu dia não é só no segundo domingo do oitavo mês, seu dia é contado pelas nossas conversas longas, nossas confidências, só nossas. Eu te amo, acima de qualquer outro amor. 





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Sai de mim

17:28 Ana Flávia Sousa 5 Comments

Alô querida? Aguarde um momentinho que agora não estou perdendo tempo com bobagens.
Não, não preciso saber quem você beijou noitada passada, ou se chegou ao finalmente, e nem estou interessada neste seu papinho de uma só razão: competir com minha vida.
Se conseguiu o emprego dos sonhos, ótimo, mas nem venha tentar se gabar pro meu lado porque meu lugar é logo ali na frente: camarote. Também não adianta tentar fazer um dossiê sobre mim, os segredos estão muito bem guardados, secretos.
Não, não estou mudada, apenas abri um pouco mais os olhos com esse negócio de inveja sabe, isso quando pega, não acaba mais. E me arrisco a dizer ainda, que não há pessoa nesse mundo que não tenha experimentado o gosto amargo deste veneno, colocado em nossa vida, boa noite cinderela. 
Por que cargas d'água quer tanto que eu me ferre hein danada? Vai me diz, vira homem mulher. Porque cobiça tanto o que é meu, ou o que quero que meu seja?!
Não, não pense que se você tentar encher minha cabeça de minhocas fará com que eu desista de vencer, sonhar: ilusão, sou mais forte que você pensa. E não sou assim porque as pedras no meu caminho tenham sido mais que eu esperava, sou assim porque meu Deus é maior que sua inveja, que seu olho gordo, muito gordo, rolando de tão gordo. 
Vem cá pr'eu te ensinar um regime mágico pra estas pupilas obesas que tanto olham minha vida, enquanto a sua vai passando sem sua presença. 
E não precisa pensar que desejo mal a você, apenas espero, espero muito, que esqueça um pouco essa coisa de duelo comigo, uma rixa silenciosa que fui descobrir a pouco: decepcionada. 
Aproveita e faz as pazes consigo, se ame mais um pouco pra deixar de pensar que tô querendo ser você, quero não querida, obrigada. Mercadoria estragadinha faz um mal danado pro estômago já inflamado.  Aproveita e comece a  se vestir mais por dentro sabe, pra depois se borrar de tanta maquiagem, como ouvi uma vez de um sábio: meu melhor vestido é o avesso. Encare o desafio que nesta briga vou cair de cabeça viu, tenho tanta coisa bonita semeada aqui dentro - feias também - se quiser, te dou uma mudinha da árvore das virtudes, é um bom começo. Aproveite, e cultive também os sentimentos contrários à essa inveja tão boba que anda demonstrando, põe a mão na terra, esqueça as unhas feitas - compradas - e cultive. Troque sentimentos miseráveis pelos que realmente fazem sucesso. E não me venha outra vez com as suas historinhas fantasiosas que usa apenas pra me jogar lá no fundo daquele poço ali. Não tente fazer com que eu me sinta a pior pessoa do mundo. E não tente provar pro resto do mundo que sua beleza é estonteante se por dentro anda podre. E agora, escute: não quero seu cabelo, seu olho, seu sucesso, seu corpo,sua vida, quero a minha vida de volta, longe dos seus olhos gigantes, quero é paz de espírito e muito sal grosso.



Ana Flávia Sousa Silva

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marinando

16:33 Ana Flávia Sousa 9 Comments

O sol nasceu sob aquela chuva mansa, tão mansa que você sabe que vai demorar a passar. Mariana acordou preguiçosa, mas feliz , a chuva sempre lhe trazia serenidade pra descansar os pensamentos que fervilharam tanto naqueles dias de sol. Recesso. Estranhamente, cansou-se rápido da paisagem vista através do vidro sujo da janela daquele quarto, vazio.  Mesmo tão amiga da solidão e de cada um dos seus lápis multicoloridos, o dia se entristeceu de repente.  De nada servia os dois mil e um traços em cores nos mais variados rascunhos de sonhos colocados ali, na velha escrivaninha. Neste dia tão peculiar, em que nada se encaixava no normal ela viu ao se olhar no espelho que foi ela quem deixou o dia triste. Comprovou ao ver que as lágrimas que eram refletidas diante de si se misturavam com a imagem da janela, pingos de chuva se espalhando naquele vidro, tentando limpá-lo a todo custo. Pobre chuva, mal sabia que a sujeira estava por dentro, impregnada. Mariana sabia que poderia mudar aquilo tudo, mas não sabia como, quando e onde. Desceu correndo as escadas do sótão para se embriagar de choro de nuvem, chuva, chuvisco. Temporal dentro de si. Havia um lago, cheio de vazio. Não havia pier. Havia Mariana, cheia de tanta coisa. Vazia de paciência.  Havia muita confusão nesta quantidade inimaginável de vendavais que tentavam sem receios, e muito menos pudor levá-la pr'aquele abismo infinito de angústia. Mariana tomou um porre daquele líquido caído do céu e queria férias de algo que não compreendia. Diante do lago da casa antiquada como só Mariana sabe ser, ela se viu numa pequenez que fez com que sua estrutura, tão bem planejada e rígida até então, estremecesse. Havia medo em cada gota minúscula de orvalho da alma. Sentiu todo o oceano que guardava há muito  nas profundezas de seu ser, e num ato quase insano o quis dividir com o lago. Precisava. Sem forças para conter os olhos tão aguados de mar, abraçou-se ao vento, antes forte, leviano. Agora, par dançante. Pôde contar com o carinho que a brisa gelada acariciou seu rosto e, aos poucos a maré foi baixando. Tudo melhoraria. Ela se sentiu pronta a encarar a dura tarefa da limpeza daquele vidro, que tanta gente quis sujar, borrar. No caminho, juntou pedras que foram jogadas, levou pra dentro, para com elas começar a construir seu castelo. De cartas, pode ser. Escada para alcançar cada um dos sonhos. Depois, por trás da janela outra vez translúcida, veria as nuvens dando licença para o sol brilhar a tardinha, pouco antes de seu espetáculo, aquele sol que parece que se põe todo dia dentro da gente, tão bonito que é. Libera sorrisos, antes prisioneiros. Veria aquele encontro, entre o astro rei, sonolento, pronto pra dormir, e a vida noturna, brilhante, da dona lua.  Acreditaria. Ao alvorecer, Mariana transbordava em mar, e o mar de alguma maneira, possuía uma parte dela. Agora, anoitecendo está, e é Luana, cheia de luz, cheia de brilho do luar. Queria acreditar. Não havia uma versus a outra. Ambas eram componentes de uma mesma equação, resultando em força, chuva, sol, lua. Era possível. Andam dizendo por aí, que depois da tempestade, o sol sempre aparece.  Pode acreditar, pode abrir a janela, vai.  O tempero especial vem por último mesmo. Assim, Gran Finale.

-Ana Flávia Sousa

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