liberté.

18:17 Ana Flávia Sousa 19 Comments

♪  Já sonhei nossa roda gigante .






Estávamos ali, sentados perto um do outro. Você, numa tentativa de impedir que a noite gelada congelasse meu corpo me abraçava forte. Em meio a um abismo temporal, lágrimas rolavam sobre meu rosto frio, sem que eu pudesse conter. Você não percebeu, e mais que depressa tentei disfarçar este choro silencioso. Logo entendi. Era a felicidade se liquefazendo,  extravasando os limites da minha alma e transbordando nos meus olhos. Foi engraçado, porque comecei a sentir cócegas no meu peito, e senti uma vontade louca de dar gargalhadas. Era a borboleta se preparando para alçar vôo. Assim, à francesa, liberté. Agora, me recuso a sentir emoções de valor negativo. Abaixo de zero, quero só o frio, pra que possamos nos deitar aqui, ao lado da lareira, debaixo de um cobertor, apreciando o céu, o momento, você. Pela manhã, me acorde bem cedo com um sorriso radiante no rosto, e me leve para receber os primeiros raios do sol, no alto de uma montanha ou no telhado de casa. Me leve. Me conte tua cor preferida, que crio um arco-iris em degradê pra colorir teu dia! Me conte. Me mostre teus defeitos, e me permita encaixar-me neles, e  a respeitá-los. Deixe que eu roube teu papel de chef de cozinha por um instante e arrisque a fazer teu prato predileto. Deixe que eu te agrade.  Segure a minha mão, e deixa eu te acompanhar, pra onde quiser. Calma, não tenha pressa. Não precisamos mais correr daquele moço, sr. medo, ele já não me persegue, não deixo. Me leve de canoa, barquinho de papel, venesianamente.  Assista um filme melodramático ao meu lado, me deite no teu colo e faça carinho nos meus cabelos longos, da cor do sol que está se pondo. Brinque comigo, vamos ao parque nos divertir, namorar na praça, algodão doce e maçã do amor. Venha dançar  nesta chuva que só quer nos mostrar o que de marvilhoso nos aguarda esta noite... uma vida inteira. Venha, e me deixe ir.





Ana Flávia Sousa Silva

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:)

enluarada,

16:20 Ana Flávia Sousa 11 Comments

A lua que gira, que gira, que gira só





Enquanto as cores são salpicadas no horizonte belo, o azul que se fez presente o dia todo coincide com as sombras que a noite vem trazendo, e eu aqui, sentada em um canto qualquer em meio a meus livros, companheiros noturnos, acreditando que desta vez o santo com seu cavalo, que vivem na face da lua darão a mim o ar de sua graça. Não sei dizer ao certo, mas independente do que eu faça, no fundo da minha alma, eu acredito que a lua zela por mim, quase madrinha. Talvez, por isso mesmo me tornei assim, também de fases. Amante da noite confessa, mas incrivelmente intrigada com o encanto que o luar me transmite. Pra tanto, diriam que vim ao mundo embalada no manto escuro da noite, mas era o astro rei que brilhava lá em cima quando me viram menina mulher. Curioso é quando à noite, (horário reservado para a propagação mundial das lágrimas), no meu quarto choro, num desabafo incompreendido por mim e a lua, lá em cima, crescente, parece perceber e sorri pra mim. Num ato sem pensar, me vejo roubando as gotas que o luar transborda, de alegria e beleza e não me permito a derramar uma só lágrima, não mais, até o alvorecer talvez. Desprendo-me dos acontecimentos que motivaram o aquele choro soluçado e agradeço a companhia da lua, das estrelas e do santo que outra vez não vi, visão defeituosa. E afirmo mentalmente pra mim mesma que tentarei por todos os outros dias, uma questão de honra agora ver estes verdadeiros moradores do mundo da lua. Antes mesmo de navegar no barco dos sonhos e ser levada pela maré da imaginação, perco alguns bons minutos relembrando de tudo que aconteceu desde que o sol nasceu e hoje, a sensação de dever cumprido e satisfação, foi deixada pra trás. Deu lugar a frustração e outra vez, ao medo. Tornei-me amiga do satélite natural da terra, e com ele aprendi a ser amigável com a solidão, tanto que agora não sei como sair desta fase, tão minguante. Faço da lua chaise long e vejo, aqui de cima, meus retalhos deixados causando dor, e me proponho a descobrir qual segredo do brilho do luar, transmitido durante noites e noites, desde que o mundo é mundo. Pergunto-me repetidas vezes o que poderia ser feito por mim, para que tudo se equilibre e eu, agora em migalhas volte a me inteirar. Um desrespeito com o santo franciscano que antes doava, para depois receber,sempre. É a lógica natural de tudo e sempre concordei com isso. Mas não, o estágio insiste em ficar assim, estagnado. Nada de crescente. Parece não querer evoluir, fica assim, parado no tempo. Talvez a solução seja eu deixar de invejar a tal princesa, aquela bela que adormeceu por anos a fio, e enfim, acordar. Talvez, eu deva continuar admirando a lua, como faço diariamente, mas deixe um pouco de lado o medo das radiações solares, para assim aproveitar mais o dia. Deixar a dependência do sono, sonhos e hábitos noturnos, para depender de um dia lindo, ensolarado. Descobrir quantos desenhos é possível  formar com as nuvens brancas de uma tarde. Perceber que o sol nasce, atrás da montanha, já inovando, e enfim entender que a sedução da lua, é renovada com o brilho solar. Ai, depois que tudo se unir num lusco-fusco, talvez eu me veja assim, aurora polar.


Obrigada Ari, por ler este e outros textos enquanto eles estão em fase de 'cozimento'. =)

Ana Flávia Sousa Silva

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:)

têpêêmê,

12:29 Ana Flávia Sousa 5 Comments

Estou pensando em me jogar de cima da pedra mais alta. 


Assim, quase como um carnaval fora de época. Mas não é festa!  Uma salada mista de sensações incompreendidas, por mim. Contrariando meu estado novo de alegria, minha carência se apresenta para minha solidão, que por sua vez grita, implorando por minha companhia, apenas. Conhecedora e mulher que sofre há anos por isso, sei que existe e os especialistas nomeiam: tensão pmenstrual. Agora, desordenada. Numa situação anormal, fora dos dias verdadeiros, não me encontro. Radical, por si só, meu signo se faz presente e me coloca diante de minhas extremidades. Enquanto meu corpo, faminto, necessita do alimento alheio, aquele carinho, minh'alma, agora se diz anorexa, não se alimenta nem de esperanças mais. Perco a arbitrariedade diante desta luta, arte marcial. Simultâneos, apresentam-se munidos de conjunções alternativas. Primeiro Round. Um colo, eu queria agora, ou não, preciso mergulhar nos meus pensamentos. Segundo Round. O choro incontido e diário ajuda a expelir tudo que as palavras não são capazes de descrever, entra em combate com a minha extrema alegria de viver! Bipolaridade?! Terceiro Round. Pessoa paciente, compreensível e amável, sou, dali a pouco, uma ignorante, incapaz de entender a psíquica humana. Péssima companhia. Quarto Round. Estudante sonhadora e criativa, consigo  imaginar projetos meus, capas de revistas e livros publicados, uma crise, e sou um completo fracasso. Meus textos, um lixo. Desisto. Quinto Round. A filha exemplar, irmã maravilhosa, namorada perfeita e melhor amiga, eleva-se os hormônios um pouco, e é uma completa inútil, que não ama mais ninguém, nem a si mesma. Sexto Round. O espelho do corredor mostra um corpo, escultural, desenhado e em ordem, fico satisfeita, até que o espelho dos olhos alheios vêem o que eu não quis enxergar, que falta aqui e sobra ali, frustração. Sétimo Round. Uma energia de dar gosto, acordo cedo, se recuperada estivesse, animava até a caminhar, antes do meio dia, a preguiça  já me consumiu por completo. Oitavo Round. Pisando em terreno desconhecido,  me coloco em alerta, cuidadosa, mais tarde a cautela já foi colocada no banco de reserva, e já estou correndo para os braços da novidade. Nono Round. Borboleta criada, asas prontas para voar e medo descartado, palavras na ponta da língua querendo sair, e como se fosse proteção, desistência. Décimo Round. Prato principal: Língua de maritaca. Um assunto atrás do outro, como se agora, a fala tivesse acabado de ser descoberta pela criança, boca seca, um copo d'água e volto muda, quase autista, só olho para a parede e não quero conversar. Décimo Primeiro Round. Curiosa, quase aventureira, quero saber de todos os detalhes, trocar informações contigo, uma palavra mal dita, e não quero saber de mais nada. Indiferente. Décimo Segundo Round. Independência, casa própria, viagem pelo mundo e um cachorro grande. Eu cozinho, eu lavo e passo. Vou  ser feliz assim. Esqueço a hora do remédio, fico tonta e ninguém está perto para me amparar,  aí, coitada de mim, que tristeza! Quanta solidão! Quero o cuidado da família, a companhia pra jantar e uma conversa sobre o dia que está acabando, e até um beijo de boa noite. Duas maneiras de viver, brigando por um mesmo corpo. E nesses momentos de hormônios alterados e se alternando o tempo todo, eu choro, choro incondicionalmente, por qualquer motivo e por motivo algum. Já não quero ouvir os argumentos extremos colocados diante de mim, tenho medo até de meus pensamentos. Assombrada, busco minha fé e meu Deus, converso com a alma da minha avó, sem obter respostas é claro, e espero que tudo isso passe, que eu seja uma pessoa melhor e estável quando acordar. Que durante o sono, as duas faces de mim, façam um acordo e se encaixem, quebra-cabeça, pois estou farta de toda essa disputa por território. Vou dormir, para acordar, espero, tigresa domada. Uma auto-defesa, alternativa.


Ana Flávia Sousa Silva

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:)